Primeiros dias de vida e a microbiota intestinal

Muito se fala da importância dos primeiros 1000 dias de vida - da gestação até os 2 anos - para a saúde do bebê e, posteriormente, do adulto. Contudo, as evidências científicas mostram que esta janela de oportunidades se estende até os 5 anos, idade pré-escolar, totalizando 2200 dias de vida . Entenda a importância desta fase para a formação da microbiota intestinal saudável e equilibrada. ¹ 

O que são os primeiros 2200 dias? 

Os primeiros 2200 dias são o período que compreende entre: 

Pré-concepção até 1 ano = 1000 dias  

Os primeiros mil dias de vida são os 270 dias de gestação somados aos 730 dias após o nascimento, quando é o momento em que a criança completa 2 anos. Trata-se de uma janela inicial muito comentada na medicina moderna, pois é um período de oportunidades que irá estabelecer desfechos determinantes para a saúde ao longo de toda a vida. ² 

O período é crítico para o desenvolvimento da microbiota intestinal equilibrada e diversa. A colonização adequada é fundamental para o sistema imunológico e o desenvolvimento infantil. Um microbioma rico e diversificado está associado à menor prevalência de alergias e doenças metabólicas e imunes na vida adulta. ²  

Fase escolar + pré-escolar = 1200 dias  

Após a colonização completa do trato gastrintestinal, desde o nascimento até os 2 anos, período que se estende nos próximos anos, a homeostasia imunológica é alcançada. Assim, a composição microbiana intestinal mantém-se estável ao longo do tempo, sendo única para cada indivíduo. ¹ 

O papel da microbiota intestinal em crianças em idade escolar é determinante no surgimento de doenças. Por exemplo, a dermatite atópica, que começa nos primeiros 5 anos de vida em 90% dos pacientes, pode estar associada à alteração da microbiota intestinal. ³ 

A fase pré-escolar e escolar, período que vai até os 5 anos, é crucial para o desenvolvimento cognitivo. A saúde intestinal é fundamental na infância pois, a microbiota equilibrada com bactérias probióticas resulta em supressão de metabólitos neuroinflamatórios que interferem na memória. ⁴ 

Entenda a seguir como funciona o eixo intestino-cérebro e sistema imune para a cognição. ⁵ 

Eixo intestino-cérebro e sistema imune 

A microbiota intestinal possui diversos papeis significantes e bem estabelecidos na literatura científica, podendo destacar:  

• Proteção antibacteriana: impedindo a colonização de patógenos exógenos. 
• Modulação do sistema imunológico: tornando possível a ativação das defesas imunes. 
• Metabólitos nutricionais: contribuindo para a nutrição do indivíduo por conta das interações e dos metabólitos produzidos, fornecendo fontes de vitaminas e energia. ⁶  

Pesquisas sobre as causas de diversas patologias têm levado vários cientistas a relacionar outros sistemas ao cérebro do paciente, associando alterações na microbiota intestinal. Isto sugere que o eixo cérebro-intestino seja uma importante peça no “quebra-cabeça” para a saúde integral. ⁷  

O mecanismo do eixo microbiota-intestino-cérebro inclui: vias neuroimunes, comunicação neural através do nervo vago, efeito dos metabolitos e dos neurotransmissores derivados da microbiota e a influência desta sobre o metabolismo do triptofano e da serotonina. ⁷ 

A comunicação neural também pode ocorrer através da liberação de neurotransmissores pelas células endócrinas do intestino e pelas células imunológicas. ¹  

O quadro de disbiose intestinal, desequilíbrio da microbiota intestinal com mais bactérias patogênicas, interfere no eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. Esta via é responsável pela homeostase de cortisol e catecolaminas. Em desequilíbrio, desencadeiam diversas reações adversas à saúde, como ansiedade, irritabilidade e mau-humor. ⁸   

A disbiose pode promover a ativação de células imunológicas, gerando inflamação, que pode prejudicar ainda mais a microflora, o que interfere na função da barreira intestinal. ⁹    

A formação da microbiota  

A composição inicial da microbiota do lactente é determinada por diversos fatores: 

• Genética do bebê;  
• Estado nutricional;  
• Tipo de parto; 
• Contaminação do meio ambiente; 
• Higiene; 
• Tipo de alimentação – principal fator, pois oferece substratos para as bactérias probióticas ou patogênicas. 

A alimentação pode modular a microbiota intestinal, alterando seu padrão de colonização.   

A alimentação nos primeiros 2200 dias de vida é determinante para a colonização e perfil da microbiota intestinal.  

Compostos prebióticos favorecem o crescimento de bifidobactérias e lactobacilos, bactérias probióticas que exercem ação positiva para a saúde. ⁴ Nos primeiros mil dias de vida, o aleitamento materno fornece compostos prebióticos encontrados no leite humano chamados HMOs - oligossacarídeos do leite humano, além de bactérias prebióticas, lactobacilos e bifidobactérias.  

Após os dois anos de idade, no período que vai até os 2200 dias, a alimentação equilibrada, com compostos prebióticos e probióticos, tem o papel fundamental de auxiliar na modulação da microbiota intestinal. Assim, também contribuem para o equilíbrio do sistema nervoso central e bom desenvolvimento cognitivo na fase escolar. ^{2, 4, 8, 10, 11}