No dia a dia da prática clínica, você deve se deparar cada vez mais com demandas relacionadas à performance física, recuperação muscular e emagrecimento.
A suplementação nutricional pode ser uma estratégia para otimizar os resultados dos seus pacientes, complementando as demais orientações clínicas em relação à alimentação, atividade física e qualidade de vida.
Nesse sentido, a L-carnitina tem se mostrado um componente de atuação interessante na oxidação de gorduras. A seguir, vamos abordar o que é a L-carnitina, suas funções, indicações e como utilizar nos atendimentos.
O que é e onde atua a L-carnitina?
A L-carnitina é um composto sintetizado pelo organismo a partir de dois aminoácidos essenciais, a lisina e a metionina. Para a sua produção, também são necessários outros nutrientes, como o ferro, vitamina C, niacina e vitamina B61.
Presente em maiores concentrações nos tecidos musculares e cardíacos, a principal função da L-carnitina é o transporte de ácidos graxos de cadeia longa para a matriz mitocondrial. Assim, ocorre a sua conversão em energia, por meio do processo de β-oxidação2.
A L-carnitina pode melhorar a eficiência do uso de lipídeos como fonte de energia durante o exercício. Este contexto pode auxiliar na preservação do glicogênio muscular e reduzir a fadiga, melhorando o desempenho físico1,2.
A L-carnitina também desempenha um papel importante na regulação das vias metabólicas envolvidas no equilíbrio proteico do músculo esquelético: proteólise e síntese proteica2.
Além disso, ela atua como um composto antioxidante e anti-inflamatório e, portanto, pode atenuar os danos musculares induzidos pelo exercício2.
Estudos recentes demonstram que a suplementação prolongada, especialmente em combinação com alta ingestão de carboidratos simples, pode aumentar o conteúdo total de L-carnitina no músculo esquelético em consequência da elevação dos níveis séricos de insulina. Portanto, a suplementação em condições específicas pode afetar o desempenho físico, melhorando o desempenho e o gasto energético2.
No quesito emagrecimento, a suplementação de L-carnitina pode proporcionar um efeito modesto de redução no peso corporal, IMC e massa gorda, especialmente entre adultos com sobrepeso e obesidade3.
Portanto, as principais indicações com a suplementação deste composto seriam: performance esportiva, redução de fadiga e recuperação muscular.
No ponto de vista de emagrecimento, embora alguns estudos mostrem resultados positivos, os dados ainda são inconclusivos.
Fontes alimentares
A L-carnitina pode ser sintetizada no fígado, rins e cérebro, mas produz apenas 25% da quantidade utilizada desse composto pelo organismo1. A dieta possui grande papel no fornecimento de L-carnitina, e ela pode ser obtida por meio da alimentação ou de suplementos1.
As melhores fontes alimentares são as de origem animal, como peixes, carne, leite e aves4. Os pacientes que não consomem alimentos de origem animal merecem atenção especial e, nesses casos, a suplementação pode ser necessária.
Suplementação
Devido ao transporte de L-carnitina para o músculo ser mediado pela insulina, a suplementação deve ser preferencialmente combinada com carboidratos2.
Em relação ao tempo de suplementação, o protocolo deve levar ao menos 3 meses para que resultados sejam observados, devido à baixa biodisponibilidade da L-carnitina2.
Um período mais curto de suplementação pode ser eficaz na prevenção de danos musculares induzidos pelo exercício, mas não nas alterações metabólicas2.
A dose do suplemento deve ser avaliada de forma individual, mas, de acordo com as evidências, dependendo do objetivo pode ficar entre 1 e 4 gramas por dia. No entanto, a Anvisa estabelece como dose diária para suplementos a quantidade de 2 gramas de L-carnitina5.
Possíveis efeitos adversos
Uma dose diária de 2 gramas de L-carnitina é indicada como segura para a suplementação em longo prazo, com estudos relatando ausência de efeitos colaterais em doses ainda maiores2. Efeitos adversos relatados incluem efeitos gastrointestinais, como indigestão e azia6.
É importante observar a indicação de estudos recentes de que a suplementação prolongada com L-carnitina elevaria os níveis plasmáticos de TMAO, uma substância que poderia elevar o risco de aterosclerose1-3.
Assim, a L-carnitina demonstra efeitos benéficos em algumas situações, sendo de suma importância no momento da prescrição avaliar individualmente cada paciente, seus objetivos, necessidades e histórico de saúde, garantindo assim o melhor aproveitamento desse componente.
--> Leia também: Ciência do leite na nutrição esportiva